Ricardo Allan
Correio Braziliense
12/11/2007
Governo prepara MP que obrigará sete órgãos federais a preencherem 80% dos cargos de confiança, equivalentes a parte dos DAS 1 a 5, com funcionários de carreira. Medida deve atingir 2 mil funções
Criticado por aumentar o número de indicações políticas para os cargos em comissão na gestão pública, o governo resolveu dar uma resposta. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve assinar ainda nesta semana uma medida provisória (MP) reduzindo em cerca de 80% o número de posições de Direção e Assessoramento Superior (DAS) em sete órgãos da administração federal. Esses postos serão trocados por uma nova figura, a da Função Comissionada do Poder Executivo (FCPE), que só poderá ser ocupada por funcionários que já sejam detentores de cargo efetivo no serviço público.
Nos órgãos escolhidos, continuará existindo uma margem em torno de 20% de cargos de DAS, de livre escolha do administrador. A experiência vai começar com a Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Advocacia Geral da União (AGU), Controladoria Geral da União (CGU), Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, Receita Federal e Secretaria do Tesouro Nacional. Num segundo momento, a modificação pode se estender a outros órgãos, como Secretaria de Orçamento Federal (SOF), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN).
“Estamos dando um passo importante na direção da profissionalização do serviço público e da valorização do servidor efetivo. A determinação do governo é de fazer com que, cada vez mais, os cargos de chefia sejam ocupados por funcionários de carreira”, disse ao Correio a secretária de Gestão do Ministério do Planejamento, Patrícia Audi. Os cargos que serão objeto da MP são uma parcela dos DAS 1 a 5. O DAS 6, tradicionalmente ocupado pelos secretários nacionais, continuarão sendo de livre provimento. O governo ainda não fechou o número exato de funções com DAS que vão desaparecer, mas ele deve ficar em torno de 2 mil.
Segundo o diretor de Modernização Institucional do Ministério do Planejamento, Walter Emura, o critério básico de escolha dos sete órgãos iniciais foi a existência de carreiras mais estruturadas e maduras. A troca de DAS por FCPE será feita de forma paulatina, com a republicação da estrutura de cargos de cada ministério no Diário Oficial da União. O novo organograma funcional extinguirá os DAS e criará as funções, que serão ocupadas logo em seguida. “A intenção é finalizar o processo nesses órgãos até o final do ano e avaliar a possibilidade de extensão para outros no ano que vem”, disse.
Ainda de acordo com Emura, a troca não resultará em aumento ou diminuição de remuneração. Cada DAS extinto equivalerá, em termos salariais, a uma FCPE criada. “O servidor efetivo que já ocupe um DAS e que eventualmente seja escolhido para continuar no cargo de chefia com a nova função não terá nem ganho nem prejuízo”, assegurou o diretor. Não deverá haver, portanto, elevação dos gastos com a folha de pagamentos da União, que vai consumir R$ 120 bilhões neste ano, segundo as estimativas do Planejamento no último decreto de programação orçamentária e financeira.
Em junho, pressionado por categorias funcionais em greve, o governo reajustou o valor dos DAS entre 30,57% e 139,75%. O servidor concursado ocupante de uma posição de DAS recebe os vencimentos do seu cargo efetivo mais 60% do valor cheio da comissão. Segundo Emura, essa parte adicional é de R$ 1,2 mil no DAS 1, R$ 1,5 mil no DAS 2, R$ 2,2 mil no DAS 3, R$ 3,8 mil no DAS 4 e R$ 5 mil no DAS 5. Esses serão os valores das novas FCPE. No último ano do governo Fernando Henrique, havia 19.209 cargos de DAS. Lula inflou esse número para 21.563 com a criação de 2.354 postos em menos de cinco anos.
Quanto maior a importância na hierarquia dos ministérios, menor é o percentual dos cargos ocupados por servidores efetivos — em geral, os ministros indicam pessoas de sua confiança para os postos mais próximos deles. De acordo com o último Boletim Estatístico de Pessoal do Executivo, os servidores ocupam 70,5% dos cargos de DAS 1, comuns para remunerar postos técnicos e administrativos. O nível é de 72% no DAS 2 (chefes de divisão), 70,2% no DAS 3 (coordenadores de áreas), 50,8% no DAS 4 (chefes de assessorias parlamentares dos ministérios, por exemplo), 43,2% no DAS 5 (assessores especiais, chefes de gabinete e secretários-adjuntos) e 31,6% no DAS 6 (secretários nacionais).
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Sindsep defende escolha por concurso interno
O secretário-geral eleito do Sindicato dos Servidores Públicos Federais no DF (Sindsep), Oton Pereira Neves, considera “um avanço” a proposta do governo de aumentar o número de servidores efetivos nos postos de comando da administração federal. Para ele, a medida trará mais estabilidade na prestação dos serviços públicos, que tende a ficar menos dependente da pura vontade política dos governantes. Mas, ainda assim, a iniciativa seria insuficiente para profissionalizar e valorizar o servidor. Assim que a MP for publicada, o Sindsep pretende procurar o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, para propor mudanças no texto.
“É um passo importante para deixar a administração nas mãos dos servidores estáveis e não de pessoas indicadas politicamente. Mas é preciso haver regras para a ocupação dessas novas funções. A decisão não pode ser só da cabeça dos ministros”, defende. Neves pretende propor a Bernardo a criação de um processo de seleção interna, aberto a todos os servidores do órgão que preencham um perfil mínimo para a chefia. A indicação seria feita pelo ministro a partir de critérios objetivos e não simplesmente por sua vontade. O sindicato vai negociar a criação das funções em outros órgãos, além dos já definidos.
Segundo Neves, para a total profissionalização da administração pública, o governo também tem que investir na formação dos servidores, com treinamento e capacitação. Além disso, o Sindsep quer que o governo avance na pauta de valorização do funcionário público, com a adoção de teses tradicionais do sindicalismo, como a aposentadoria com remuneração integral. Neves é o atual secretário de Assuntos Jurídicos do sindicato e foi eleito na semana passada para ocupar a secretaria-geral. Ele deve tomar posse no mês que vem. (RA)
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QUADRO:
Ocupação de cargos comissionados:
Servidores públicos
DAS 1 - 70,5%
DAS 2 - 72%
DAS 3 - 70,2%
DAS 4 - 50,8%
DAS 5 - 43,2%
DAS 6 - 31,6%
Não concursados
DAS 1 - 29,5%
DAS 2 - 28%
DAS 3 - 29,8%
DAS 4 - 49,2%
DAS 5 - 56,8%
DAS 6 - 68,4%
VALORES:
DAS
1 - R$ 2 mil
2 - R$ 2,5 mil
3 - R$ 3,7 mil
4 - R$ 6,3 mil
5 - R$ 8,3 mil
FCPE
1 - R$ 1,2 mil
2 - R$ 1,5 mil
3 - R$ 2,2 mil
4 - R$ 3,8 mil
5 - R$ 5 mil
Número de cargos DAS: 21.563
Número de cargos DAS que serão obrigatoriamente ocupados por servidores neste primeiro momento: 2 mil*
Órgãos onde a experiência deve ser iniciada este ano: Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Advocacia Geral da União (AGU), Controladoria Geral da União (CGU), Ministério do Planejamento, Receita Federal e Secretaria do Tesouro Nacional
*Previsão
Fonte: Ministério do Planejamento
segunda-feira, 12 de novembro de 2007
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2 comentários:
Gostaria de sugerir que postassem esse mesmo quadro com os dados do MEC, ressaltando o número de cargos ocupados por servidores efetivos do MEC, por servidores temporários e por aqueles que não possuem vínculo.
José Roberto Sobral Correia
8666
O atual secretário da SETEC é professor de carreira e portanto concursado na rede estadual do Rio Grande do Sul, ele portanto pode configurar como um servidor de carreira (do estado) sem contudo ter nenhuma ligação com esse ministério,criando assim, uma informação distorcida.
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